FHC se diz contrário ao adiamento das eleições
Durante o encontro, foram debatidos os impactos das redes sociais às instituições democráticas e os mecanismos de renovação para a política contemporânea. O ex-presidente ainda afirmou ser contrário ao adiamento das eleições municipais deste ano. “Até entendo as razões, mas há um risco bem grande. É preciso calma porque senão pode adiar a outra também e é o começo do fim”, declarou.
Fernando Henrique Cardoso também demonstrou preocupação com a crise das democracias representativas agravada pela dificuldade de estruturas políticas tradicionais lidarem com as novas redes sociais de comunicação. “Há uma dificuldade dos partidos em transformar as demandas que aparecem a cada instante nas redes em políticas públicas. Os movimentos se formam e você nem percebe porque não são publicados no jornal, estão nas redes sociais. Isto está levando a uma transformação na relação entre a sociedade e as estruturas de poder. A cada momento há uma espécie de erupção”, declarou o ex-presidente, ao citar a Greve dos Caminhoneiros ocorrida em 2018 como exemplo de demandas represadas que emergiram a partir de conexões diretas, sem a mediação de instituições tradicionais, como sindicatos.
A polarização política foi citada como problema a ser superado. Segundo o ex-presidente, a pluralidade de problemas no Brasil exige esforços para concentrar interesses comuns. “Não podemos nos deixar engolfar pela briga política. Qualquer polarização que impede de ver os problemas reais do país, da economia e do povo é negativa. O que a gente precisa é de lideranças que sejam capazes de entender a realidade e tenham capacidade de aglutinar”. Fernando Henrique acredita que a renovação pode vir fora das estruturas partidárias organizadas. “Não sou contrário às candidaturas avulsas. As estruturas partidárias perderam a capacidade de gravitar. Então, a renovação pode vir de fora dos partidos. É preciso aceitar que a democracia é um sistema que funciona na diversidade”, defendeu.
De acordo com Fernando Henrique Cardoso, a capacidade de liderança será necessária após a pandemia, sobretudo, para combater a desigualdade exposta nas estratégias de distanciamento social. “Pede-se para ficar em casa, mas há quem não tenha condições sanitárias mínimas para ficar em casa. Não dá para manter uma sociedade que já é moderna, com certo desenvolvimento econômico, com tanta desigualdade. São necessárias políticas mais igualitárias. Então, ou olhamos para esse lado ou o Brasil não vai dar o salto necessário para ser um grande país. Um grande país inclui seu povo”, conclui.
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