O depoimento de um dos investigados na operação para evitar atentados contra judeus no Brasil traz novos detalhes sobre o recrutamento de brasileiros para a prática de atos terroristas.
O sexto alvo da Operação Trapiche foi encontrado em Goiás e interrogado pela Polícia Federal de Brasília por videoconferência. O Jornal Nacional teve acesso em primeira mão ao depoimento. A identidade do investigado não foi revelada. No documento, ele conta detalhes da viagem ao Líbano, em fevereiro.
Ele disse que chegou no Líbano, em Beirute, pegou um táxi e foi para o hotel. E que de lá foi levado por homens fortemente armados a um prédio para, segundo ele, se encontrar com o chefe da organização. No encontro, ele foi questionado se tinha capacidade para matar pessoas; o trabalho proposto era matar desafetos deles.
Ele também falou sobre valores e revelou que poderia receber inicialmente US$ 200 mil e mais um prêmio de US$ 500 mil. E que disseram que ele teria perfil de criar estrutura, recrutar pessoas, organizar tudo e outras pessoas matariam os alvos.
Os investigadores mostraram para o interrogado o símbolo do Hezbollah e ele afirmou que alguns indivíduos com os quais teve contato no Líbano tinham a insígnia em suas roupas; e que ainda no Líbano, entendeu que se tratava da organização terrorista Hezbollah.
O interrogado foi liberado na sexta-feira (10), após o depoimento. Ele já havia sido preso três vezes no Brasil, responde a dois processos por receptação. E foi absolvido em um caso de sequestro.
Chamou a atenção dos investigadores que o roteiro da viagem narrado no depoimento é semelhante ao relato feito por outro interrogado na última quarta (8). Os dois suspeitos também receberam o mesmo valor para voltar ao Brasil: US$ 5 mil. A Polícia Federal trabalha agora pra saber se o dinheiro é um pagamento inicial pelo recrutamento e como os suspeitos foram escolhidos pelo grupo criminoso.
Os depoimentos fazem parte de uma investigação que apura a cooptação de brasileiros para a prática de atos terroristas. Desde quarta, a PF cumpriu 12 mandados de busca e apreensão em Minas, São Paulo, Goiás e no Distrito Federal. Duas pessoas estão presas e duas estão foragidas.
G1/Jornal Nacional