Guerra Comercial entre EUA e China: Oportunidade para a Paraíba?

*Por Laryssa Almeida
O mundo pós-pandemia nunca foi tão BANI (brittle, anxious, nonlinear, incomprehensible), traduzindo — frágil, ansioso, não linear e incompreensível — como nesta última semana, quando o polêmico anúncio de Donald Trump sobre o “tarifaço” sacudiu os mercados globais. A medida, que chegou a incluir até ilhas remotas habitadas apenas por pinguins e focas (você não leu errado!), revela uma estratégia agressiva de Washington contra a China, com efeitos em cascata.
Logo em seguida ao anúncio, as gigantes de tecnologia dos EUA sofreram com quedas bilionárias, mercados financeiros em todo mundo entraram em queda e o Goldman Sachs elevou, pela segunda vez em uma semana, as chances de recessão nos EUA de 35% para 45%.
As pressões, principalmente internas, fizeram o presidente Donald Trump recuar e suspender por 90 dias as anunciadas taxas, com exceção à China, que permanece com seus produtos sendo taxados em 145% no mercado interno americano, segundo atualização mais recente da Casa Branca.
Esse movimento rompe com décadas de estabilidade na política externa dos EUA. A nova postura, marcada por uma aversão ao multilateralismo, pela guerra comercial e pela aproximação com líderes autocráticos, foi definida pela The Economist como o início de uma “era do caos”.
No Brasil, o impacto já é sentido. Produtos exportados para os EUA passaram a ser taxados em 10%. Mesmo com a suspensão temporária, a incerteza global impulsionou o dólar, encarecendo importações e pressionando a inflação, que já está acima da meta do Banco Central. Em março, a fuga de capitais foi recorde: US$ 8,3 bilhões deixaram o país, derrubando as projeções de crescimento para 2025.
Enquanto isso, a China, pressionada pelo novo cenário internacional, acelera a diversificação de seus investimentos, buscando parceiros com estabilidade institucional, boa infraestrutura e capacidade técnica instalada. O Brasil está no radar e, nesse novo xadrez global, a Paraíba tem se movimentado com inteligência e estratégia.
Desde 2023, o governo paraibano tem intensificado a construção de pontes com a China. Sob a liderança do governador João Azevêdo, a Paraíba marcou presença em fóruns internacionais, recebeu a cônsul chinesa do Nordeste e promoveu uma missão técnica à China para discutir investimentos em ciência, tecnologia, educação e indústria.
Essas ações já começam a se concretizar. Um exemplo é o futuro Centro de Ciências do Espaço, que será instalado próximo ao radiotelescópio BINGO — o maior da América Latina — no município de Aguiar.
Outro marco foi a ida de 50 estudantes paraibanos à província chinesa de Shaanxi, em março deste ano, por meio do programa Conexão Mundo da Secretaria de Educação do estado. Durante três meses, alunos de diversas Gerências Regionais de Educação vivenciarão a cultura chinesa e frequentarão escolas locais, um investimento direto em capital humano e visão de futuro.
A Paraíba vive sua melhor fase e avança na consolidação de seu ecossistema de inovação. O Parque Tecnológico Horizontes de Inovação, em João Pessoa, instalado no histórico prédio do antigo Colégio Nossa Senhora das Neves, se soma à tradição de Campina Grande — lar de instituições como UFCG, UEPB e centros como CITTA, Unidades Embrapii e a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba. Juntos, formam um ecossistema robusto, pronto para receber e desenvolver projetos de alta complexidade.
E os resultados já aparecem: parcerias científicas, acordos com empresas asiáticas que planejam se instalar no estado, gerando empregos e promovendo transferência de tecnologia. Tudo isso, alinhado ao fortalecimento do ensino técnico e superior voltado à economia digital.
Assim, enquanto o mundo atravessa um período de turbulência geopolítica e econômica, a Paraíba mostra que é possível transformar desafios globais em oportunidades locais. Com infraestrutura crescente, mão de obra qualificada e uma política de internacionalização consistente, o estado começa a se destacar como um hub emergente de inovação e tecnologia.
Mas o momento exige celeridade e foco. Para a Paraíba se consolidar como alternativa viável, é fundamental ampliar a integração entre universidades, parques tecnológicos e mecanismos de incentivo fiscal, de modo a acelerar a chegada de novos empreendimentos.
A crise das Big Techs e a guerra comercial não são apenas ameaças. Para quem souber enxergar, são janelas abertas de oportunidade. Se alinharmos nossa tradição técnica com políticas ousadas de atração de investimentos, a Paraíba pode, sim, emergir como um protagonista global no cenário tecnológico.
O caminho já foi iniciado. Agora, é manter o ritmo, fortalecer as parcerias estratégicas e garantir que os frutos dessa nova fase cheguem a todos os paraibanos.
* Laryssa Almeida é jornalista, advogada, mestre em Direito Econômico pela UFPB, doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade de Salamanca na Espanha. Ex-Secretária de Ciência Tecnologia e Inovação e de Desenvolvimento Econômico do Município de Campina Grande. Atualmente, Laryssa é Assessora Especial da CINEP, responsável pelo escritório de representação da companhia em Campina Grande.