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‘Uma Santa Páscoa!’ – Por Fátima Bezerra Cavalcanti

Um instante de reflexão no mais novo texto da desembargadora Fátima Bezerra Cavalcanti, viúva do senador José Maranhão (MDB), ex-governador da Paraíba. Escreve numa semana em que todos devem refletir sobre à vida, num momento tão difícil de nossas sobrevivências.

Leia:

“Todos em quarentena, no isolamento social decorrente da primeira onda da Covid. Foi a única vez que passamos mais de um mês corrido na Fazenda Jurity, em Araruna/Cacimba de Dentro. Alguns dias depois, Meu Amor levantou voo em seu avião e pousou na Fazenda São Judas, em Tocantins.

Esse percurso trazia, para ele, duas satisfações: pilotar o seu “Seneca”, uma das suas grandes paixões, e ver o campo do alto, coberto de Nelore, o que lhe revigorava a alma. Foi criado sentindo o cheiro do esterco do curral, andando a cavalo, inalando o aroma da terra molhada e admirando a neblina no horizonte, sinal da próxima chuva. Aos 18 anos, ganhou do seu pai o primeiro monomotor e, como mecânico da aviação, passou a se divertir consertando, desmontando e reconstruindo aquela aeronave.

Mas, voltando à nossa estadia na Fazenda Jurity, era domingo de Páscoa e o Padre de Araruna, à época, nos permitiu assistir à missa no último banco, recolhidos num cantinho da Igreja.

Eu era da missa diária e me custava muito não comungar presencialmente. Convenci meu marido a me acompanhar, e rezamos, juntos, o Mistério Eucarístico.

Saindo de lá, fomos até a casa de Ronaldo Gomes Filho, um grande amigo – tanto meu, quanto do Nosso Amor -, padrinho do nosso neto e um dos melhores assessores do Tribunal de Justiça, lotado no gabinete do Des. Leandro. Deixamos chocolates, porém não o vimos, porque estava com Covid, isolado em seu quarto.  

No dia seguinte foi levado para o Hospital da Unimed, onde, após três dias de intenso padecer, fez sua passagem.

Foi a nossa primeira grande perda para esse maldito vírus. Minha filha, Alicinha, sofreu muito com a partida do seu amigo de infância e compadre.

Hoje estou a contemplar o amanhecer nesta Semana Santa, no mesmo lugar do ano passado, mas desacompanhada do grande amor da minha vida, com o coração que não para de sangrar; impossibilitada de receber ou fazer visita a Ronaldo; sem mais ter oportunidade de encontrar e partilhar a vida com Linda (Deolinda), falecida nesse domingo de Ramos; enfim, sentindo a falta do primo Zé Júnior, que alegrava as crianças e os adultos com suas guloseimas e generosidade.

Como aceitar com naturalidade a partida de pessoas tão cheias de planos e de vontade de viver?

Na nossa limitação humana, é muito difícil lidar com tamanhas perdas em tão curto espaço de tempo. Quem passou pela mesma situação em que me encontro, certamente, compreende o que estou a dizer.

No entanto, apesar de todo o sofrimento vivido desde a última Semana Santa, novamente é Páscoa, e somos Cristãos!

Por isso, convido-os a, junto comigo, crer na ressurreição da carne e na vida eterna; a acreditar que a existência dos nossos entes queridos não se exauriu nesta passagem terrena e que há uma dimensão superior, em cuja morada são acolhidos, com as bençãos do Pai, aqueles que plantaram o bem:

“Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida (…)” (João 4, 28-29).

 Para todos vocês que, à semelhança de mim e da minha família, sofrem a perda de pessoas amadas, desejo, colocando no coração a esperança de dias melhores: uma Santa Páscoa!”

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