Lourinho e a linda trajetória no jornalismo paraibano
Confesso, o coração me inquietou tanto com o artigo de Paulo Sérgio, veiculado no jornal A União, poucas horas após tomar conhecimento do falecimento de Lourival Ribeiro, meu pai. Reproduzo o texto inteiro por entender que está tudo perfeito, sem que merecer nenhuma consideração.
E lembrando Carlos Drummond de Andrade: “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional”.
Confira:
“Ontem, uma legião de ex-funcionários do extinto jornal O Norte amanheceu órfã. Estou falando de um O Norte que na década de 1970, no século passado, tornou-se vanguardista e pioneiro, no Nordeste, na forma de se fazer jornal na Paraíba.
O sistema offset atendia aos apelos da tecnologia que primava por uma forma mais limpa, menos agressiva, mais humana de se transmitir a noticia impressa. O calor das caldeiras que derretiam o chumbo nas linotipos, as pesas galés com a montagem de uma página de jornal, estavam morrendo, substituídos pelos textos compostos em papel fotográficos e a cartolina dos pastups. Leves e fáceis de manusear, traziam um novo horizonte para um ambiente de trabalho limpo e seguro.
Nesse ambiente de transformação, de reestruturação da forma de trabalhar nas oficinas gráficas, surgiu a figura de Lourival Ribeiro (foto). Seu Lourinho, Seu Louro ou Lourinho, para aqueles que eram mais velhos ou que tinham mais intimidade. Seria esse homem, oriundo do ambiente agressivo das antigas oficinas, que teria a missão de liderar uma geração de jovens entusiastas que não sabiam nada do que era jornal, muitos tendo nesse novo mundo gráfico o seu primeiro contato com o trabalho.
Seu Lourival, com voz mansa, caminhar tranquilo, sempre penteando a cabeleira (tinha sempre o cabelo bem arrumado), passava de mesa em mesa, observando, orientando, mostrando como é que devia proceder. Foi também um aprendiz nesse processo. Absolveu a tecnologia de algumas pessoas que aqui chegaram do Correio Braziliense e que foram trazidos a João Pessoa para introduzir as técnicas de diagramação, composição, montagem e impressão desse novo sistema.
Algum tempo depois, quando o Diário de Pernambuco fez a sua transição, já não foi preciso ir buscar ninguém no sul do país. Seu Lourival foi quem orientou e treinou equipes de paginação que vieram aqui adquirir conhecimento com quem tinha experiência. Era O Norte se tornando referência dentro dos Diários Associados.
Mas Seu Lourival não era só o “chefe”… Era também o amigo, aquele a quem muitos procuravam por orientação e aconselhamento sobre o profissional e até mesmo no pessoal. Tornou-se assim a referência entre todos aqueles que, ao longo dos anos, foram chegando, aprendendo, e com certeza quando saíam, saíam graduados para levar conhecimento aos concorrentes que começaram a engatinhar nas suas transformações: os jornais Correio da Paraíba e A União. A União teve também, em seu quadro de funcionários, o agora saudoso Lourival Ribeiro.
Seu Lourival transitava de forma descontraída das oficinas à redação, e era o elo entre o funcionário mais humilde e a direção. Muitas vezes, com a interferência dele, colegas conseguiram junto à direção benesses que não conseguiriam sozinhos. Ele era assim, ajudava quando podia ajudar, não perseguia, procurava atuar como amigo, esquecendo até a autoridade de “chefe”.
Fossem tempos normais, seria esse evento o momento de velhos companheiros encontrarem-se para homenagear a figura para homenagear a figura de Seu Lourival e rememorarem histórias, situações e fatos passados. Com certeza, tristeza da partida de Seu Louro seria também o momento de relembrar com alegria os momentos de convívio num tempo já distante.
Seu Lourival está inscrito em tipos garrafais nos anais do jornalismo impresso como o homem que liderou uma geração inteira de profissionais gráficos que hoje sentem-se órfãos, tristes e saudosos com sua partida.
Dentre muitos que tinham Seu Lourival como referência e que sempre que se encontram casualmente e que por ele perguntam estão, além de mim, Magdala Soares, Miranda Cândido, Américo Cavalcanti, Lúcia Figueiredo, Adriana Alves, Eugênia, Mary, Robson e Rosemberg Duarte, Emanuel Noronha, Dalcira, Eduardo Félix, Flávio e Benildo, Roberto Santos, Carlos Vieira…”
(Paulo Sérgio é designar gráfico e atualmente coordena a equipe de Diagramação do jornal A União)