Hoje, 1º de maio, 30 anos sem o mito Ayrton Senna
No dia 1º de maio de 1994 o Brasil perdeu Ayrton Senna, e cada brasileiro perdeu um pouco do Brasil. Em Ímola, no Grande Prêmio de San Marino da Fórmula 1, o ídolo e tricampeão mundial estava no auge da carreira quando a barra de direção da Williams FW16 quebrou e o carro foi direto para a barreira da curva Tamburello. A morte de Senna, aos 34 anos, foi confirmada horas depois do acidente, no Hospital Maggiore, em Bolonha, na Itália.
Tricampeão mundial pela McLaren, Senna havia levado o carro além do limite nos anos de domínio da Williams-Renault e conseguiu vitórias emocionantes no período. Para voltar ao topo da Fórmula 1, Ayrton fechou contrato com a montadora que havia vencido as últimas duas temporadas da categoria. Com o macacão azul, o brasileiro era o favorito para o título da temporada de 1994.
O início de temporada de Senna na Williams foi uma decepção para o brasileiro. Ele havia finalmente conquistado a chance de pilotar os carros que considerava “de outro planeta”. A equipe havia vencido o campeonato de F1 em 1992 e 1993, mas não conseguiu manter o padrão com mudanças de regulamento para 1994. Apesar do bom ritmo nas classificações, o FW16 tinha problemas de dirigibilidade durante a corrida.
Com abandonos nos GPs do Brasil e do Pacífico, as duas primeiras provas da temporada, Senna chegou a San Marino não só com a necessidade de vencer, mas também de pontuar pela primeira vez no ano. O campeonato era liderado pelo jovem alemão Michael Schumacher e tinha outro brasileiro, o novato Rubens Barrichello, na segunda colocação. Damon Hill, companheiro de Ayrton Senna na Williams, era o terceiro.
O final de semana de Ímola começou com um grande choque. Na sexta-feira, durante a primeira sessão de classificação, a Jordan de Barrichello subiu na zebra da curva Variante Bassa a 250km/h e foi lançada para o ar até colidir com a barreira de pneus e capotar na pista. Rubinho ficou inconsciente, teve o nariz quebrado e o braço engessado. Esse foi o primeiro choque dos três dias em San Marino.
– Ele tá bem. Ele tomou um susto… ele tá meio chocado, mas ele tá bem. Ele não tem nada quebrado aparentemente. Tá falando normal. Tá tudo bem pelo que eu vi, e os médicos falaram que ele tá bem. Só que eles estavam fazendo ainda controle, não terminou o controle. Mas, assim, no essencial tá tudo bem com ele. Ele movimenta tudo, aparentemente ele não quebrou nada, já fizeram check todo de braço, perna, pescoço. Falta ainda fazer mais de pescoço, mas ele tá bem, tá se movimentando – disse Senna após o acidente de Rubinho.
Chegou o sábado de mais classificações. Barrichello respondia positivamente e já havia sido liberado do hospital. Quando o temor no paddock diminuiu, mais um acidente abalaria o mundo da F1. O estreante Roland Ratzenberger, viu a asa dianteira do Simtek colapsar a cerca de 300 km/h na aproximação para a curva Villeneuve. O austríaco de 34 anos não teve a mínima chance, e o carro explodiu contra o muro. As lesões cerebrais foram fatais.
A morte de Ratzenberger abalou Senna. O brasileiro queria condições mais seguras para a corrida em Ímola e decidiu homenagear o piloto morto no sábado caso conquistasse a vitória. Com a pole position na prova, Ayrton balançaria uma bandeira da Áustria se fosse o primeiro a cruzar a linha de chegada de San Marino.
Já no início da prova, um acidente entre J.J. Lehto e Pedro Lamy causou a entrada do safety car na pista. Antes, Senna e o amigo Gerhard Berger, então piloto da Ferrari, haviam dito que o carro de segurança não era rápido o suficiente para a temperatura dos pneus seguir alta. Não deu outra: a velocidade foi reduzida e a temperatura dos pneus também.
O safety car deixou a prova na sexta volta, e Senna atingiu uma distância de meio segundo para o segundo colocado, Michael Schumacher, da Benetton. No giro seguinte, a barra de direção do FW16 quebra, o carro da Williams não responde os comandos de Ayrton e segue reto na curva Tamburello a 210 km/h para atingir com muita força a barreira de pneus.
Com a Williams destruída, Senna aparece com o pescoço caído para o lado e imóvel. A corrida é paralisada e ele recebe o atendimento do médico-chefe da F1, Sid Watkins.
– Ele estava sereno. Eu levantei suas pálpebras e estava claro, por suas pupilas, que ele teve um ferimento maciço no cérebro. Nós o tiramos do cockpit e o pusemos no chão. Embora eu seja totalmente agnóstico, eu senti sua alma partir nesse momento – disse o neurocirurgião.
Os primeiros socorros foram feitos ainda na pista. Após ser removido do carro, Ayrton Senna foi levado de helicóptero para o Hospital Maggiore, em Bolonha. Horas depois, às 18h40 no horário da Itália, a morte do ídolo brasileiro foi confirmada. Segundo a autópsia, uma parte da suspensão do carro perfurou o capacete e o crânio de Senna, o que causou a morte instantânea às 14h17 no horário de Ímola.
O corpo de Ayrton Senna chegou a São Paulo no dia 4 de maio. O cortejo foi do Aeroporto de Guarulhos até a Assembleia Legislativa da cidade e contou com velório de quase 24 horas. Cerca de dois milhões de pessoas estiveram presentes no trecho final, da Assembleia até o Cemitério do Morumbi, onde o ídolo foi enterrado com honras de chefe de estado.
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