Energia em Pauta
OPINIÃO: As termelétricas são indispensáveis à segurança energética.
*Por Gláucia Pereira
A Paraíba tem uma grande capacidade de geração de energia a partir de termelétricas a óleo combustível. Prova disso é que o estado sedia a 5ª maior planta termelétrica do mundo se levarmos em consideração as 2 usinas: Termonordeste e Termoparaíba, com 171 MW de capacidade instalada cada, conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) pela Subestação de Mussuré, pertencente à CHESF, através de linha de transmissão em 230 KV, com 5 km de extensão.
A Termelétrica Borborema, anteriormente denominada Termelétrica Campina Grande, conta com 169 MW de potência Instalada, fazendo com que a Paraíba seja referência no tema. Pernambuco possui também essa mesma vocação. Dados disponibilizados pela Empresa de Pesquisa Energética atestam essa informação. Veja:
Essas UTE’s são Produtores Independentes de Energia (PIE), vencedoras do Leilão nº. 02 de 26 de junho de 2007, deflagrado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e promovido pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Apesar do prazo de outorga ser de 35 anos, o Contrato de Compra e Venda de Energia no Ambiente Regulado (CCEAR), que garante receita às UTE’s, possuem um prazo de 15 anos e estão próximo do seu término.
De acordo com a EPASA, empresa proprietária da Termoparaíba e Termonordeste, o funcionamento das UTE’s gera 450 empregos, sendo 156 diretos de alta qualificação (engenheiros e técnicos) e cerca de 300 indiretos nas áreas de apoio, alimentação e transporte. A empresa também recebe incentivos do Governo do Estado, de naturaza fiscal e locacional.
Já a UTE Borborema pertence ao Grupo Bolognesi, em todo o seu porfólio, incluindo Pequenas Centrais Hidrelétreicas (PCH’s) e eólicas, gera cerca de 700 postos de trabalho.
No entanto, para além de contribuir com o desenvolvimento do estado, as usinas são indispensáveis à segurança do setor. Nesse quesito vale a pena transcrever parte da participação da EPASA na Consulta Pública para elaboração do Edital do Leilão de Reserva de Capacidade e Potência (LRCAP), regulamentado pela Portaria do Ministério de Minas e Energia n. 96 /2024, que ocorrerá em junho deste ano:
“As centrais termelétricas a óleo combustível emergem como a solução ideal para atender às demandas do Sistema Interligado Nacional (SIN) durante os períodos de compensação de intermitência, garantindo flexibilidade, segurança e estabilidade, além de satisfazer plenamente os requisitos de flexibilidade delineados na minuta de Portaria. A infraestrutura consolidada dessas instalações, que engloba logística e armazenamento de combustível, investimentos já amortizados, instalações operacionais e expertise comprovada em geração de energia, são elementos cruciais que respaldam as exigências do LRCAP.”
Xisto Vierira Filho, presidente da Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas (ABRAGET) em entrevista concedida na última segunda (13) ao portal AgênciaInfra afirmou que por se tratar de um leilão para dar confiabilidade e flexibilidade ao sistema elétrico, a participação de térmicas a óleo combustível não deveria ser excluída.
“Quando se fala em térmica a óleo combustível, não é para operar na base. Não vou pegar uma térmica a óleo e botar ela pra operar 24 horas por dia, só se tiver em último caso de pré-racionamento. Mas essas usinas têm uma característica excepcional de flexibilidade. Essas máquinas estão em operação, não é colocar uma nova. Ao retirar essas usinas, vou retirar flexibilidade do Sistema Interligado Nacional”, afirmou.
A flexibilidade do sistema elétrico de potência é a capacidade de se adaptar à demanda de energia, de forma a atender às necessidades de consumo. Esse requisito é importante para equilibrar a geração e a demanda de energia, especialmente em momentos de pico de consumo.
Porém, as térmicas a óleo tem um alto teor de poluição e esse indicador deve ser levado em consideração para permanência das térmicas. Um estudo produzido pela FGV Energia analisou o custo x benefício dos combustíveis utilizados nas UTE’s.
Ao observaar a tabela acima, pode-se concluir que o MME deve aproveitar a oportunidade da realização do LRCAP para implementar uma fase de transição, mantendo as plantas ativas e prontas para uma substituição paulatina para gás natural ou biocombustíveis.
Sobre o tema, em 2018 a EPASA iniciou uma fase de testes com o gás natural e em 2020 chegou a comemorar os resultados. O processo de injeção eletrônica com o combustível líquido e para gás , por meio da PBGás, levou a rede de gasoduto até à “porta”da usina.
Atualmente fala-se em combustível do futuro, regulamentado pela Lei n. 14.993/2024, que trata do biodiesel, diesel verde e biometano. Sobre o tema, falaremos nas próximas colunas!!
*Gláucia Pereira é engenheira eletricista com mais de 40 de experiência. Atuou por mais de 27 anos na Energisa Paraíba e na CONTROL, empresa terceirizada de diversas distribuidoras, entre elas a Eletrobrás Piauí e Amazonas Energia. É ex- Conselheira do Conselho Estadual de Proteção Ambiental (COPAM) e desde 2020 é Conselheira Estadual do CREA-PB. Atualmente, é sócia da GENS ENERGIA, da Rio Salgado Geração de Energia Elétrica, Vice-Presidente da Associação de Engenheiros Eletricistas (ABEE Nacional) e Diretora Administrativa da Associação Paraibana de Engenheiras Agrônomas e Geocientistas (APEAG). Autora de livros e artigos.